quarta-feira, 7 de maio de 2008

A imoralidade de algumas religiões convencionais em Moçambique

A coesão social das nossas comunidades sempre foi assegurada por um leque de crenças, que com a chegada do colono foram sendo absorvidas. O povo africano no geral e moçambicano em particular, sempre adorou seus deuses, o que pelo menos lhe garantia que sua vida estava directamente ligada a algo superior. Se formos a revisitar a nossa história, veremos que os rituais dos nossos povos foram sempre a solução para fome, seca, pandemias, guerras mas hoje é tudo visto como algo estranho. A minha questão é: até que ponto a distanciação do moçambicano com as suas tradições pode concorrer para a sua imoralidade?

Na minha óptica, a partir do momento em que, mergulhados no modernismo, começamos a assumir cegamente os argumentos pro-religiões convencionais, caímos no erro de que os seguidores das religiões tradicionais, nossos antepassados na sua maioria, não possuíam valores morais aceitáveis. Digo isto porque a religião é o garante da moralidade de um povo.

Muitas são as religiões que nascem a cada dia que passa, como resultado de frustração e/ou ganância de alguns crentes. O resultado é que assitimos cenários em que na busca do protagonismo, alguns religiosos ao invés da palavra de Deus, passam o tempo a atacar as outras religiões. Já ouvi por exemplo testemunhos de pessoas a dizer que durante muito tempo, eram apoquentadas por doenças, até tomaram banho de sangue mas não houve solução, só depois de conhecer o Deus daquela religião é que libertaram-se das enfermidades. Ora bem, se analisarmos bem este argumento, podemos ver que não é milagre de Deus que é enaltecido mas sim o nome daquela Igreja. A pergunta é que estará por detrás desta publicidade? Angariação de crentes? Demonstração do poder e Milagres Divinos?

Já assisti cenários em que um pastor convidava os crentes a desafiarem Deus com valores monetários. Para quê? Critica-se o facto de em alguns momentos sacrificarmos algumas espécies animais para entregar aos nossos antepassados, mas somos obrigados a sacrificar valores monetários que não temos em troca de benção. O tempo passa o debate é que os que estão do outro lado estão perdidos. Só queria apelar para a questão do perigo oposto.

Fico triste com a diablozação dos nomes tradicionais, os espíritos que se manifestam dos nossos irmãos convertidos pela imoralidade, são chamados de nomes como Theiasse, Muzima, por exemplo. Se por ironia do destino este tipo de religiões nos aculturar, adeus aos nossos sobrenomes e apelidos. Será está uma colonização Religiosa? Leio a história de Moçambique e o que noto é que os assimilados tinham hábitos do colono, se formos a ver os nossos pastores, já não são moçambicanos e jamais serão aquilo que agora pensam que são. São pessoas sem identidade. No final de contas vamos ver que são os catalizadores da imoralidade das religiões convencionais.

Vi numa placa de uma religião qualquer coisa como:... prestamos serviços em ... fiquei sem perceber nada. A verdade manda-me dizer que este é o troco da nossa ignorância em relação as religiões tradicionais, que agora são vistas como foco de burla.

Vovó Jaime Mantsena, que Deus o tenha, sempre disse: meu filho o feitiço do negro é a noite e do branco é de dia, por isso achamos que o negro é o pior feiticeiro pois de dia o branco nos convence que está a fazer algo normal. Nestes dias não deixo de pensar no meu avô, nos seus dizeres, pois o oportunismo de alguns religiosos, que diabolizam nossos nomes tradicionais, distanciam-me da minha real história e desvaloriza-me cada vez mais.

Mas algumas religiões tradicionais fantoches, tem vindo a se aproveitar da nossa ingenuidade e falta de orientação. A cada dia que passa vejo placas publicitárias a falarem de médicos tradicionais que vem de longe, que curam tudo menos a pobreza que lhes apoquenta. Esses sim são outros, que vestindo nossa máscara vão vivendo às custas da nossa desgraça. Estes e aqueles pais dos milagres, correntes e tapetes, deviam ser julgados pela nossa racionalidade.

A imoralidade que pretendo aqui trazer tem haver com o facto de quando passamos para as religiões convencionais, ignoramos nossa realidade. Os nomes tradicionais são vistos como símbolos do pecado, os filhos netos vêem nos seus antepassados autênticos diabos vestidos a carneiro. Moral tem haver com a orientação comportamental social e/ou individual como forma de manter e/ou promover a coesão social. A minha questão é: até que ponto este conflito entre as religiões pode destruir o tecido social que a todo custo o nosso país conquistou?

Aos famosos doutores Licenciados em Medicina Tradicional no norte de qualquer que seja o Continente, País; aos pastores, padres, que para mim são assimilados e catalizadores da colonização religiosa, queria apelar para que deixem de servir de maus exemplos, pois isso é que degrada a moral do nosso povo.

5 comentários:

Jorge Saiete disse...

Bamo, este debate é actual embora espinhoso. espinhoso no sentido de que muitos o evitam, alegando temer ferir sensibilidades...Mas isso é cobardia, porque o fazem em privado...

Uma das questões que levantas é se não estaremos perante uma colonização religiosa. Acho que a questão tem razão de ser, sobretudo se olharmos para as manifestações do colonialismo.

O colono levava nossos recursos para a metropole, algumas seitas religiosas também o fazem.

o colono masturbava as nossas mentes por via de assimilação, algumas seitas o fazem. a este respeito, deixe-me dizer que fiquei assustado quando descubri que um jovem que com ele joguei a bola na Ex-avenida Antonio Chapalmaud, no Fomento, nos finais dos anos 90,perdeu o sotaque que tinha e assimilou ou brasileiro só porque virou obreiro na church.

Estamos sim, a ser colonizados, pena que Mondlane não está mais connosco.

Lázaro M.J.D.M Bamo disse...

Saiete obrigado por sempre passar deixar alguma dica no meu masturbatório. tive muitos receios de publicar este texto, na verdade isto aconteceu depois de um debate com um amigo meu. a verdade manda-me dizer que já é altura de chamar tudo pelos próprios nomes, hoje não especifiquei as religiões mas a igreja universal é um mal na nossa sociedade, que deve ser combatido, sobretudo devido a aculturação que ela institui na nossa sociedade. estou a preparar uma tese que iremos compartilhar oportunamente.

Jorge Saiete disse...

Meu irmão, terei imenso prazer em ver a tua tese. discutir teses dos outros é uma das formas que tenho de matar saudades da academia. Olha, fique com meu email: matic_j@hotmail.com
aquele abraço

Lázaro M.J.D.M Bamo disse...

Obrigado Saiete vamos trocar correspondencias

Moré disse...

Irmão, sou brasileiro e concordo com você, moro no Brasil e aqui também sofremos com esses crentes(pastores) que se escondem atraz de Deus, e mentindo para poder tomar o dinheiro do povo. Se vocês aceitarem essa crença mentiroisa, vocês estarão aceitando á derrota. Gostaria que vc me adicionasse no msn fallisonp@hotmail.com para que possamos conversar, e gostaria de saber mais sobre seu Deuses, minha religião aqui no Brasil e o Candomblé uma religião que cultua os deuses africanos. Por favor gostaria muito de saber mais sobre seus deuses.