terça-feira, 15 de abril de 2008

Falta de sentido do Estado Vs decadência da hegemonia partidária

Um homem que nunca muda de opinião, em vez de demonstrar a qualidade da sua opinião demonstra a pouca qualidade da sua mente.(Marcel Achard)


Com este artigo, a minha pretensão não é abater os corvos que adejam nas noites escuras do povo moçambicano mas sim procurar entender alguns fenómenos sociais que podem desgastar movimentos partidários quando estes não tem responsabilidade.

O primeiro aspecto que gostaria de discutir com o prezado leitor, tem haver com a essência/significado do sentido de estado. Na minha óptica, ao aplicar-se a separação de poderes (Executivo, Legislativo e Judicial), aliado a isto, quando o governante assume responsabilidade total e completa pelo bem estar do governado, este último dá o seu contributo na gestão do estado, aí temos o sentido de estado. A minha pergunta é: Qual é o cenário em Moçambique?

Para responder a minha ingénua questão, teremos que analisar vários casos que tem vindo a se verificar no nosso país. A verdade é que a falta de sentido de estado pode culminar com a decadência da hegemonia político/partidária, na medida em que o suporte popular de uma ideologia político-partidária, encontra-se enraizado na resposta aos anseios das massas. Mas esta falta e/ou ausência de sentido de estado verifica-se também nos governados, que muitas das vezes não dão seu contributo na gestão do bem comum.

Estamos mergulhados até ao pescoço, num país onde partidos políticos perdem a maior parte do tempo se atirando pedras, ao invés de buscar soluções dos problemas, onde alguns governados nada fazem para inverter o cenário da desgraça. Infelizmente estamos num país onde a oposição acha que ajudar o país a crescer, é atacar o partido no poder exigindo para que lhe seja entregue o poder, porque ele merece. Minha pergunta é, até que ponto poderá se considerar esta exigência um facto consumáveis, tendo em conta que ninguém entrega o poder de mão beijada. Estamos num país onde o desafio é lutar contra pobreza, HIV-SIDA, etc, mas alguns dos nossos queridos políticos/governantes centram suas atenções na heroização dos seus ídolos.

Sentido de estado passa necessariamente por resgatar o patriotismo que movia os actuais dirigentes quando marcaram uma viragem na história do país com a geração 8 de Março. Muitos jovens tiveram que abandonar o conforto das suas famílias, abandonar amizades e arriscar as suas vidas para dar o melhor de si para que Moçambique pudesse ser livre e independente. Agora temos o país livre, porque não por em prática os sonhos que moviam a geração que Eduardo Mondlane no seu livro Lutar por Moçambique, apelidou de “uma nova geração de insurrectos activos e determinados a lutar pelos seus próprios meios “.


Nosso país não deve ser discutido e traçado fora somente, as estratégias de desenvolvimento não podem ser traçadas tendo em conta somente os objectivos e as áreas/sectores de interesse dos doadores, porque a continuar assim, Moçambique vai ainda implementar planos incoerentes e ideais políticos inconcretizáveis. Cadê Jatropha, a famosa Arca de Noé, que iria salvar a pérola do Índico da fome? Este pode ter sido um dos casos de ideais políticos que não visam ser concretizados mas sim desafiados. E a agir-se deste modo, que na minha óptica significa demagogia, falta de comprometimento do estado/governo em relação aos anseios dos governados, temos uma situação clara de falta de sentido de estado.

Creio que as hegemonias que hoje caíram em desuso, é porque não acautelaram a questão do sentido do estado, não que não conhecessem o papel desta na sua manutenção na liderança, mas porque relegaram para o segundo plano.

No nosso país há estabilidade política, os governantes deviam usar este factor como pretexto para evidenciar o seu sentido de estado, que passa pelas acções coerentes e logicamente correctas, patrioticamente aceitáveis e moçambicanamente válidas, na solução dos problemas. Não vivi os tempos, mas quando olho para os meus antecessores enxergo que algo lhes identifica como patriotas, isto porque o cenário político/social e cultural que viveram lhes incutiu a ideia de lutar e preservar o bem comum. Não se pode dizer o mesmo hoje, onde cada um é por sí e Deus por todos. Vivemos de restos de patriotismo, como resultado da ausência total ao sentido de estado, e o país a cada dia que passa parece não ser de todos.


Efectivamente o cenário nos mostra com A+B que a hegemonia político-partidária está minada, por culpa própria, porque os nossos compatriotas não sabem ou ignoram que os regimes que ao longo de tempo demonstraram que nada tinham de sentido de estado, foram linchados pelo povo, pois este tem poder apesar de não estar no poder. Temos problemas hoje, a solução ainda está por vir, dos tecnocratas que estão arquivados nos gabinetes como assessores, mas suas ideias e conselhos não falam mais que a vontade político-partidária. Ai sim temos solução, não naqueles que diariamente aparecem exigindo o poder, como isso fosse solução para o problema da maioria.


A solução está com os filhos que a pátria amada pariu, mas que hoje estão exilados nas grandes empresas de consultorias, universidades, ONG’s, pelo mundo a fora, pois mesmo amando a pátria viram que a solução para sua dignidade está longe da nossa terra.
O bom senso, ética, responsabilidade são condimentos necessários e essenciais para que haja um sentido de estado em Moçambique. Estes valores não devem ser esperados apenas de partidos políticos, governo mas também dos governados, que devem saber lutar por um país melhor.

1 comentário:

Nelson disse...

Grande Bamo, importa-se de espreitar o meu blogue e ver : " Coisas de que não me importo...? ". Aceita o desafio? Alinha?
Um abraço,
Nelson