Depois dos tumultos e de menores terem medido forças com Estado Moçambicano, na sequência da subida do preço do Chapa, Carlos Serra escreve uma Carta ao Guebuza.
Depois de ter prometido aqui , Dr. Carlos Serra deixou aqui a carta que segue abaixo, dirigida ao presidente da república. Lembre-se aqui uma outra carta escrita pelo jovem deputado da AR Manuel Araújo, também dirigida ao PR e todas a propósito da "Super Terça Feira". Desfrutem
Senhor Presidente
O ano passado, quando das explosões do paiol de Malhazine, escrevi- lhe a minha terceira carta . Agora, após o sismo social na periferia de Maputo, cá estou de novo a escrever-lhe uma carta, esta é sétima desde 30 de Janeiro de 2007 .
Presidente: a gente humilde desapertou os cordões à bolsa para poder ter festas melhoradas no fim de 2007, como sempre, afinal, faz todos os anos. Entrou em Janeiro com a expectativa de um ano melhor, como em todos os Janeiros entra, mas com a bolsa minguada e a fazer contas para, entre outras coisas, como também sempre acontece, tratar da inscrição dos filhos nas escolas, da compra de livros e de outro material escolar, de fardas, etc
E foi quando fazia essa e tantas outras contas do orçamento familiar, que lhe caiu em cima, a 5 deste mês, a notícia do aumento dos preços do pão e dos chapas. Tudo muito rapidamente, Presidente, com a eficácia inexorável de um sismo tecnocrático. E, depois, a gente humilde revoltou-se, deu origem ao sismo social de continuidade, a gente humilde que passa dificuldades de sobrevivência diárias, muita da qual não tem 13.º mês, a gente humilde que nada sabe dos preços do trigo e do combustível no mercado internacional, que apenas sabe que a sua vida tem sempre um ponto de interrogação diário. Enquanto isso, andou e anda outra gente, Presidente, dizendo que o nosso povo é pacífico, que em si nada teria feito perante o sismo tarifário e a frieza burocrática do governo se não fosse a mão perversa de uma agenda externa, de uma agenda má. Por outras palavras, gente que passa ao povo um atestado de vegetal, resignado e comestível.
Ora, Presidente, foram homens, mulheres e crianças quem se revoltou, no sismo social sobrevindo estavam lá elas, as mulheres, aquelas que gerem lares e orçamentos e pontes sociais; as crianças e os adolescentes, aqueles que andam nas escolas, no comércio informal ou que, no caso dos mais velhos, estão desempregados. Chamar-lhes arruaceiros, marginais, é criminoso.
O ano passado, o Presidente assumiu que a culpa foi "nossa" a propósito das explosões de Malhazine. Mas este ano nenhuma culpa foi assumida por quem quer que seja do seu executivo.
Andaram ministros multiplicando-se pelos órgãos de comunicação em sábias dissertações sobre os preços internacionais. Mas não vimos ministros a fazer o que Samora Machel dizia em 1974 que deviam fazer: estar em permanência com o povo, ouvi-lo, dialogar com ele, deixar o conforto dos gabinetes.
E, Presidente, no dia 7, em medida apressada, tardia e demagógica, os TPM, empresa pública, puseram na rua os seus autocarros de luxo para tentar minorar a revolta, numa situação em que, em termos de transportes, tudo foi entregue ao processo negocial com os chapistas. Autocarros que, como o Presidente sabe, não foram comprados para servir o povo.
Presidente: há coisas que não podem ser privadas, coisas que um Estado deve assumir imperativamente. Pão e transportes condignos a preços subsidiados são duas dessas coisas. Dir-me-á que isso é quimérico, que o mercado não permite isso. Seja. Mas deixe-me ao menos ser isso, quimérico.
Demitir-se o Estado do seu papel de Estado social é demitir-se do Povo, é abandoná-lo. Abandoná-lo, é deixá-lo refém de discursos tecnocráticos, de caminhos estatísticos, é caminhar para a perda de legitimidade
Acusamos o rio de violência, Presidente, mas esquecemo-nos muitas vezes das margens que o comprimem; acusamos o povo de ser tumultuoso e esquecemo-nos de nos perguntar se não somos nós os tumultuadores.
O povo de Maputo guarda ainda a memória dorida das explosões de Malhazine e guardará agora a memória da revolta de 5 de Fevereiro. De alguma forma criou-se - permita-me a expressão - uma zona sismológica social permanente. E essa zona não poderá, agora, ser esquecida nem molestada. Tanto mais que Maputo é bem mais do que o Sul de Moçambique: estando aqui gente de todo o país, a cidade é uma espécie de concentrado nacional
Perdoe-me tê-lo incomodado uma vez mais
Respeitosos cumprimentos
Carlos Serra
Depois de ter prometido aqui , Dr. Carlos Serra deixou aqui a carta que segue abaixo, dirigida ao presidente da república. Lembre-se aqui uma outra carta escrita pelo jovem deputado da AR Manuel Araújo, também dirigida ao PR e todas a propósito da "Super Terça Feira". Desfrutem
Senhor Presidente
O ano passado, quando das explosões do paiol de Malhazine, escrevi- lhe a minha terceira carta . Agora, após o sismo social na periferia de Maputo, cá estou de novo a escrever-lhe uma carta, esta é sétima desde 30 de Janeiro de 2007 .
Presidente: a gente humilde desapertou os cordões à bolsa para poder ter festas melhoradas no fim de 2007, como sempre, afinal, faz todos os anos. Entrou em Janeiro com a expectativa de um ano melhor, como em todos os Janeiros entra, mas com a bolsa minguada e a fazer contas para, entre outras coisas, como também sempre acontece, tratar da inscrição dos filhos nas escolas, da compra de livros e de outro material escolar, de fardas, etc
E foi quando fazia essa e tantas outras contas do orçamento familiar, que lhe caiu em cima, a 5 deste mês, a notícia do aumento dos preços do pão e dos chapas. Tudo muito rapidamente, Presidente, com a eficácia inexorável de um sismo tecnocrático. E, depois, a gente humilde revoltou-se, deu origem ao sismo social de continuidade, a gente humilde que passa dificuldades de sobrevivência diárias, muita da qual não tem 13.º mês, a gente humilde que nada sabe dos preços do trigo e do combustível no mercado internacional, que apenas sabe que a sua vida tem sempre um ponto de interrogação diário. Enquanto isso, andou e anda outra gente, Presidente, dizendo que o nosso povo é pacífico, que em si nada teria feito perante o sismo tarifário e a frieza burocrática do governo se não fosse a mão perversa de uma agenda externa, de uma agenda má. Por outras palavras, gente que passa ao povo um atestado de vegetal, resignado e comestível.
Ora, Presidente, foram homens, mulheres e crianças quem se revoltou, no sismo social sobrevindo estavam lá elas, as mulheres, aquelas que gerem lares e orçamentos e pontes sociais; as crianças e os adolescentes, aqueles que andam nas escolas, no comércio informal ou que, no caso dos mais velhos, estão desempregados. Chamar-lhes arruaceiros, marginais, é criminoso.
O ano passado, o Presidente assumiu que a culpa foi "nossa" a propósito das explosões de Malhazine. Mas este ano nenhuma culpa foi assumida por quem quer que seja do seu executivo.
Andaram ministros multiplicando-se pelos órgãos de comunicação em sábias dissertações sobre os preços internacionais. Mas não vimos ministros a fazer o que Samora Machel dizia em 1974 que deviam fazer: estar em permanência com o povo, ouvi-lo, dialogar com ele, deixar o conforto dos gabinetes.
E, Presidente, no dia 7, em medida apressada, tardia e demagógica, os TPM, empresa pública, puseram na rua os seus autocarros de luxo para tentar minorar a revolta, numa situação em que, em termos de transportes, tudo foi entregue ao processo negocial com os chapistas. Autocarros que, como o Presidente sabe, não foram comprados para servir o povo.
Presidente: há coisas que não podem ser privadas, coisas que um Estado deve assumir imperativamente. Pão e transportes condignos a preços subsidiados são duas dessas coisas. Dir-me-á que isso é quimérico, que o mercado não permite isso. Seja. Mas deixe-me ao menos ser isso, quimérico.
Demitir-se o Estado do seu papel de Estado social é demitir-se do Povo, é abandoná-lo. Abandoná-lo, é deixá-lo refém de discursos tecnocráticos, de caminhos estatísticos, é caminhar para a perda de legitimidade
Acusamos o rio de violência, Presidente, mas esquecemo-nos muitas vezes das margens que o comprimem; acusamos o povo de ser tumultuoso e esquecemo-nos de nos perguntar se não somos nós os tumultuadores.
O povo de Maputo guarda ainda a memória dorida das explosões de Malhazine e guardará agora a memória da revolta de 5 de Fevereiro. De alguma forma criou-se - permita-me a expressão - uma zona sismológica social permanente. E essa zona não poderá, agora, ser esquecida nem molestada. Tanto mais que Maputo é bem mais do que o Sul de Moçambique: estando aqui gente de todo o país, a cidade é uma espécie de concentrado nacional
Perdoe-me tê-lo incomodado uma vez mais
Respeitosos cumprimentos
Carlos Serra
2 comentários:
Alô ilustrissimo. O nelson convidou-me para visitar teu blogue. Gostei da frontalidade. Um abraço, Ivone.
Bem vinda ao meu cantinho de masturbacao intelectual, tambem ja dei volta pelo seu catntinho de reflexao. Bem vinda a casa e parabens pelo seu progresso na vida politica.
L.B
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