terça-feira, 22 de novembro de 2011

MIA COUTO MIA EM PORTUGAL

Numa entrevista publicada recentemente em terras lusas, onde o nosso admirado e reputado escritor Mia Couto se deslocou para receber mais um prémio de tantos que já ganhou, o escritor instiga violência e desordem. A ida do Mia a Portugal não podia passar despercebida da imprensa lusa, e também não podia escapar às entrevistas além do prémio. Aqui começa o miar do Mia.





A entrevista ao jornal Sol, tem como ângulo de abordagem a crise económica mundial e os movimentos de contestação que se verificam um pouco por todo mundo, é aqui onde o escritor surpreende pela negativa quando diz «é preciso sair à rua, é preciso revoltarmo-nos, é precisa esta insubordinação». A minha pergunta é, terá o escritor medido a dimensão dos seus pronunciamentos? O disse mesmo isso e o significado é mesmo esse? Mia vamos sair a rua para nos revoltarmos? É isso que queria dizer? Temos que ser insubordinados? É isso que queria dizer? Mia Couto antes de miar dessa forma, acho que devia ter avançado uma solução ou opinião como intelectual, procurando mostrar a outra face da moeda. É tarefa de qualquer intelectual tomar posições, quanto a mim que não

estimulem violência, desordem social, etc.





Mia Couto ainda que filho de descendentes portugueses que emigraram para Moçambique em meados do século XX, defendeu a lutou pela independência nacional tendo por via disso ajudado a implantar alguns valores, que quanto a mim se o convenceram, não os devia abandonar: não à violência, a insubordinação e revolta. É que ao aparecer a defender revolta e insubordinação, Mia Couto passa imagem de quem construiu um palácio com tanto sacrifício mas do nada, decide destruir a sua obra de sonhos. Mia, ajudou a formar o homem novo, como jornalista e escritor, ajudou a criar esta identidade do Moçambicano e se há falhas estas falhas não podem ser apenas do presente, seria necessário recuar

ao passado, aliás, diz um velho ditado popular que “ Se queres prever o futuro, estuda o passado”.



Mia a insubordinação e a revolta, irão queimar seus livros; irão matar seus leitores; irão bloquear todo e qualquer esforço para fazer estudos (que até agora faz) sobre as zonas costeiras; irão matar este homem que o Mia tanto contribuiu para sua formação, seja ele deficiente ou não de ponto de vista epistemológico; irão acabar com as suas aulas de ecologia na universidade, enfim irão acabar com tudo. Falo de si como podia falar de tantos outros obreiros desta pátria de todos nós.



Mia esperava do seu miar uma solução, mas me parece que ao invés de iluminar o povo parece querer perdê-lo no mato quando diz “ só há que saudar gente que faça coisas e não cruze os braços, mesmo que não ainda compreenda exactamente qual é a saída pelo menos vem dizer que não aceita o que está a acontecer, e isso é importantíssimo”. Mia a nossa luta, a nossa revolta e nossa insubordinação tinha uma CAUSA, tinha termos de referência claros e acredito que se alguém lhe tivesse dito as palavras acima no tempo da luta, não teria aceite juntar-se ao movimento, por isso acho caricato que um intelectual do seu calibre avance posições sem sustentá-las. Podia citar aqui Robert J.Hastings, que diz “ Se não estivermos dispostos a ajudar uma pessoa a vencer as suas falhas, há pouco valor em apontá-las”, para dizer que Mia o seu miar de nada ajuda se simplesmente aponta falhas sem avançar a solução.



Diz o Mia que quando se juntou à revolução, o lema era que o militante da Frelimo era o primeiro no sacrifício e o último no benefício, e acha que isso morreu para a Frelimo, morreu no mundo hoje. A minha pergunta é porque morreu? O Mia faz parte desta ordem, do passado a que se refere ao presente que rejeita e dele se distancia. Mia, dizia e muito bem Ghandi que, “ Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo”. E para um bom entendor meia palavra basta, e digo mais citando agora Josemaría Escrivã “Não admitas um mau pensamento acerca de ninguém, mesmo que as palavras ou obras do interessado dêem motivo para assim julgares razoavelmente”.



Vamos sim pressionar os nossos governos a adoptar novas formas de sociabilidade humana, novas formas de distribuição da riqueza (espero que o Mia esteja disposto a partilhar com o povo também), mas isso deve ser feito com base nalguns valores altos da Frelimo e do povo, a reconciliação e o diálogo. Eu não tenho medo da mudança, não apoio as desigualdades sociais mas também não acho que a insubordinação e a revolta sejam a solução.





Nós não somos um povo chantagista do tipo quem não mia não come mas sim um povo trabalhador e batalhador, que já sofreu muito e agora que está a erguer-se não estará disposto a abdicar do seu trabalho e das suas famílias para se insubordinar e revoltar-se mesmo sem saber qual é a saída. É que aprendemos de Charlie Chaplin que “ Para poder rir verdadeiramente devemos estar disponíveis para apanhar a nossa dor e brincar com ela”, e para isso usamos os nossos métodos e o maior é o diálogo. Se Mia fosse miar para as bandas da Moamba, iria aprender em Changalane que até homem traído, é chamado pelos madodas para dialogar com o amante da sua mulher, sacrifica um animal e é acordado que nada de mal pode acontecer ao amante sob pena dele, o corno, ser imputado as culpas (acho que daria um bom livro e um grande prémio).





Mia, o povo não precisa do miar de nenhum intelectual para sair a rua e manifestar, bem como para recolher as suas casas. As pessoas podem se manifestar e se manifestam (ex-trabalhadores da antiga RDA); as pessoas reivindicam os seus direitos e o governo deve fazer o seu papel que é dar a mão a palmatória e recuar, como o fez em Setembro; mas este movimento não tem comandante se quisermos vê-lo como manifestação de pessoas que não querem poder político, mas sim melhoria nas suas vidas. Quando começa a haver comandantes e líderes, começam também a surgir interesses individuais e por via disso já não é o povo que luta mas algumas pessoas que usando a capa do povo querem tomar o

poder.

Quando a revolta e a insubordinação começarem a se materializar os intelectuais, mesmo os que miam pela diáspora, não estarão aqui! Irão continuar a instigar violência a partir do outro lado do hemisfério e chegarão aqui como os iluminados, para implantar a nova ordem. Mia apesar de ter miado em Portugal, não irá revoltar-se contra nada muito menos se insubordinar. A pergunta é, porquê?



PS: Aquele que suspeita está a pedir que o atraiçoem.

Abraços da pêrola que te viu nascer

Lázaro Bamo



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OS MÁRTIRES DO NADA E OS HERÓIS DO HIPERURÂNEO

Aprendemos a voar como os pássaros,
A nadar como os peixes;
Mas não aprendemos a simples arte
De vivermos juntos como irmãos
(M. Luther King)

A minha convivência com muitos, independente da sua cor, religião, filiação político-partidária, é influenciada pelo facto de que esta diferença ser uma oportunidade para minha maturidade e crescimento. É por esta razão que os tolero, é por esta razão que os acolho e os acarinho. Esperava que nossas diferenças não fossem motivos para não-convivência, porém a cada dia que passa sinto que cresce em nós homens desta terra e outras, aquilo que dizemos combater, intolerância, falta de diálogo, desvalorização do outro e seus pensamentos, entre outras coisas, tendo como base o acesso ao poder.

Entendo e percebo que a vida e o tempo encarregam-se de fazer heróis e mártires para cada conjuntura, porém há um valor que se está a perder, que tem haver com a heroicidade como mérito proclamado pelos outros e não uma auto-proclamação e/ou insinuação de se estar correcto e por via disso, mártir ou herói. Não tarda que as pessoas apareçam a degolar-se umas as outras usando seus poderes materiais e sobrenaturais para se fazerem heróis.

Se esta atitude e postura continuarem estaremos a instituir ou a criar uma incubadora para o nascimento dos Mártires do Nada, aqueles que acho que não tem causas em suas lutas e batalhas senão a sua sobrevivência; aqueles que único motivo que os leva a estarem contra os sistemas e os governos do dia, é o acesso aos recursos e a riqueza; ser intolerante para com o governo dia somente para ter estatuto; degolar a personalidade das pessoas só para se afirmar que é o melhor; pisar os valores da convivência com os homens só para ser visto como o Herói do Hiperurâneo.
Há muitos riscos de instituir um poder num país com base na força, é que os heróis de hoje podem ser os diabos de amanha e assim sucessivamente. Há um abandono ao diálogo baseado no preconceito da diferença e desvalorização do outro enquanto ser diferente de nós. É que a lição vai passado, e nós iremos precisar deste valor que se chama diálogo quando chegarmos lá, quando estivermos lá (perguntem ao Paulo Portas), porém não quero com isso defender regimes totalitaristas e eternos no poder. Acho que devemos imprimir mudanças porém isto passa pela preparação de quem irá ser rei quando o rei for destituído do poder e se o sucessor não será mesma coisa ou pior que o rei; bom teríamos que experimentar para ter uma conclusão; porém pergunto: queremos experimentar e a quem vamos experimentar. Nunca pode ser o motivo da substituição de qualquer pessoa ou regime, o tempo que este tiver no poder, mas o seu nível de gestão e o desempenho deste no seu posto. Sim existem imperfeições e devem ser corrigidas, mas como devem ser corrigidas? Ninguém pensa no COMO, e as pessoas escondem sempre o como, pois interessadas pelo poder sabem que só querem ter acesso ao que seus adversários políticos tem. Citando Confúcio, gostaria de lembrar que, “Quem quiser governar bem um país, deve primeiro governar a sua cidade. Quem quiser governar bem a sua cidade, deve aprender a governar primeiro a sua família; e quem quiser governar bem a sua família deve aprender primeiro a governar bem a si próprio”.
Os mártires do nada e os heróis do hiperurâneo usam a mesma táctica que dizem ser do seu inimigo, e culpam sempre os outros pelos seus fracassos. Da mesma forma que acusam este ou aquele de nepotismo e amiguismo, eles serão julgados e condenados por ter esta postura no futuro; eles hoje estão unidos pela não-Causa (considero não-Causa a falta/ausência desta ou a não definição clara desta) e já existe entre eles aquele que será venerado como o clarividente, já existem entre eles os ministros, governadores, até secretárias; já existe uma ideia de como serão suas casas e seus carros; de como será a educação dos seus filhos; que carro para suas esposas; que casas para suas amantes; que terra para privatizar; quem será PCA daqui e dali; qual será a nova constituição; isto tudo para excluir as pessoas tendo em conta as necessidades e desejos do novo grupo, da nova elite; e porque esta elite terá chegado ao poder à força vai tratar de fechar todas vias que terá usado para chegar ao poder para que seu regime não seja ameaçado; terá também que investir muito na segurança e nos seguranças, para que seu regime não seja ameaçado. Depois terão que pagar aos seus aliados, entregando parte da nossa terra e seus recursos.

Será que vale a pena? Sim tudo vale a pena quando a alma não é pequena, precisamos de ousadia para que haja mudanças e o poder também conquista-se, como conquistou Paulo Portas em Portugal; conquista-se como Lula da Silva conquistou no Brasil; conquista como Nelson Mandela na RSA; conquista-se como Guebuza conquistou em Moçambique, porém regimes que violaram os direitos humanos para chegar ao poder acabam caindo na desgraça como aquela dos malogrados Nino Vieira e Muamar Kadaffi, só para citar alguns exemplos.

É preciso saber que mesmo com a limitação nas liberdades fundamentais do homem, Samora Machel, conseguiu criar homem novo e hoje ele é exaltado como o ícone da Primeira República se quisermos parafrasear o grande Filósofo Severino Ngoenha. Quer isto dizer que ninguém pode falar em nome do povo sem mandato para o efeito, sob risco de ser considerado boateiro, pois virou moda, qualquer um aparecer e dizer o Povo, o Povo. Quem exalta Samora é o povo, que anda no chapa e bebe nos famosos senta baixo. Já devíamos ter aprendido que ninguém manda muito menos manipula o povo. Guebuza tem mandato para falar de quem o delegou competências para o efeito, neste caso o povo moçambicano, sem querer dizer que não podemos analisar o país e dai tirar nossas ilações, mas quando o povo estiver cansado até muitos que falam em nome deste irão fugir do país, tenho certeza.

Uma ordem de sucessão no poder baseado na força tem impactos negativos e se hoje os nossos países investem na segurança é por uma questão de maturidade, aliás a wikileaks veio a provar o quanto a questão de segurança é importante para qualquer país do mundo e pior quando se fala de países desenvolvidos, e aqui há muito investimento para que os países e os regimes se mantenham, e isto será assim para sempre por motivos óbvios.

A nossa causa só poderá ter virtude se ela responder as perguntas: O que? Porque? Como? Caso contrário melhor é poupar-nos. Aventurem sozinhos mártires do nada e heróis do hiperurâneo.

Lazaro Bamo
Nampula – Ribáue