quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Paradoxos da política externa norte americana: um apelo ao meu país


Dizia uma pessoa muito especial para mim, e que tem me ajudado a crescer que, chegar ao poder com ajuda e intervenção directa dos países poderosos é muito perigoso, a cada dia este postulado ganha, quanto a mim, corpo e forma na medida é que reflecte aquilo que temos estado a viver hoje.

A ordem política mundial atravessa mais uma crise, depois de tantas que se passaram, as guerras hoje tem motivações diversas e muitas das vezes paradoxais. Vivemos num contexto em que os países africanos continuam a ser tratados como analfabetos do ponto de vista de governação, dai a importação e imposição constante e permanente de modelos de gestão e política, muita das vezes trazidos para aqui para meros ensaios. Infelizmente o ocidente ainda não nos encara como parceiros mas sim como mendigos, mesmo sabendo o papel que a África joga na economia mundial.

Moçambique não tem relações de amor e paixão com a Líbia por este ter sempre nos ter considerado “comunistas”, mesmo depois da visita do líder líbio a alguns anos atrás, não podemos dizer que éramos bons irmão, exemplo disso é que não comungávamos as mesmas ideias no que a União Africana diz respeito. O líder líbio, Muammar Gaddafi, queria uma África independente, uma independência total do continente, que tem recursos para isso e já era sem tempo de serem os próprios africanos a definir seu futuro, suas politicas, entre outros aspectos que conferissem soberania total e completa ao continente e aos seus povos. E quem estaria interessado numa África independente em todos segmentos da vida, a não ser a própria África e os africanos?

O líder líbio, seu povo e seu país ficaram isolados e foram sancionados durante muito tempo, no meio destas sanções todas, o país conseguiu criar uma robustez económica invejável o que pode, quanto a mim, ter influenciado a nova postura do ocidente em relação à aquele país. Se analisarmos a lógica das relações da Líbia com o Ocidente podemos encontrar o seguinte: inimigos anteontem – amigos ontem e inimigos hoje, dai um aviso à navegação dos grandes bradas hoje em cavaqueira com Ocidente.

Uma busca rápida sobre a cronologia das intervenções militares dos Estados Unidos de América, poderia nos elucidar sobre a lógica do postulado, inimigos anteontem – amigos ontem e inimigos hoje, senão vejamos: Entre 1801-1805, houve a Primeira Guerra Berbere ou Guerra de Tripoli, na qual cerca de uma dezena de americanos empregou 500 mercenários gregos, árabes e berberes, portanto começo a acreditar na visão de Gaddafi de que estão neste grupo mercenários contratados para esta missão; em 1981, mais concretamente a 19 de Agosto, houve o Primeiro Incidente sobre o Golfo de Sidra, onde aviões norte-americanos abateram dois aviões líbios sobre o Golfo de Sidra, que é reclamado pela Líbia como águas territoriais, mas considerado como águas internacionais pelos EUA; já em 1986, houve o Segundo Incidente sobre o Golfo de Sidra, onde o Presidente Reagan relatou que entre 24 e 25 de março, unidades militares norte-americanas foram atacadas por mísseis líbios e os EUA responderam atacando posições líbias com mísseis; no mesmo ano houve a Operação El Dorado Canyon a 16 de abril, onde o Presidente Reagan informou que fora realizado um bombardeamento aeronaval contra instalações militares em Trípoli, alegando que Muammar Gaddafi fora responsável por um atentado a bomba numa discoteca alemã que matou dois soldados norte-americanos.
Esta cronologia disponível na internet, elucida-nos sobre os conflitos hoje na Líbia, que quanto a mim ultrapassam a falta de liberdades fundamentais na era Gaddafi.
Em 2008, a então secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, depois de uma visita aos países de norte de África incluindo Líbia, disse que as relações entre os dois países conheceriam a partir dali outra fase, fazendo crer a opinião pública mundial que seriam boas relações. Isso passou por uma maquilhagem politica à aquele país a nível mundial e o líder líbio foi seduzido e atraído pela Rice ao ponto de declarar o abandono a seu programa nuclear e assinou contratos milionários com muitas empresas do Ocidente para exploração petrolífera. Já estava dado mais um passo para levar o líder ao covil de víboras. Se Gaddafi tivesse sido mais cauteloso não teria caído nesta isca da água salgada que vira refrigerante num abrir e fechar dos olhos. Estava em preparação a sua tumba.

Com um novo look, o estojo de maquilhagem de Gaddafi incluía um batom político defensivo contra manifestações dado pelo então primeiro-ministro britânico Tony Blair, que vendeu a aquele país gás lacrimogéneo, armas de “controle de multidões”, fuzis e metralhadoras. Foram estas mesmas armas que serviram de alguns dos argumentos para a intervenção da NATO naquele país. Hoje em dia, é questionada a questão do respeito pelos direitos humanos e democracia naquele país, depois de acordos chorudos com empresas ocidentais que já tem legitimidade para exploração de recursos daquele país, contraria-se a famosa evolução que os americanos chegaram a firmar que se estava registar na líbia e não falando da democracia que eles admitiram ser algo delicado.


Com tudo nas mãos e com certeza de que já podem tomar aquele país, eis que os antigos inimigos, ontem amigos hoje viram inimigos de Gaddafi que é declarado criminoso, de figura nobre a nível mundial hoje não passa de um rato que está a ser procurado pelos gatos mais bravos do mundo chegando a dar milhões de dólares em troca da sua cabeça; hoje em dia um gestor de um país isolado durante anos, que conseguiu criar uma robustez económica invejável, é visto como lacaio e deve ser morto e punido; hoje em dia, ele se torna mais um cliente no ridículo tribunal penal internacional, que sendo minúsculo prefiro assim escrever, onde só e somente só se julgam africanos e todos povos fora da Europa e dos Estados Unidos de América, porque uma vez abençoados pelas virtudes estes povos, são justos e honestos e vivem no hiperurâneo.

Hoje em dia fala-se de um problema quanto a mim, não concreto, que aliás acaba sufocando todos valores invejáveis da líbia na era Gaddafi como: Maior Índice de Desenvolvimento Humano da África; Ensino gratuito até a Universidade; 10% dos alunos universitários estudam na Europa, EUA, tudo pago; Ao casar, o casal recebe apoio monetário para adquirir seus bens; Sistema médico gratuito; Empréstimos pelo banco estatal sem juros; entre outros, segundo dados disponibilizados pelo www.globalresearch.ca.

A destruição da Líbia coloca-nos numa situação paradoxal sobre o futuro que se reserva a este país e seu povo e os receios de uma nova Somália, um quase estado, são maiores em relação a aquilo que o CNT diz estar a lutar para defender. Qual é a causa do CNT? Um movimento que segundo analistas não tem coesão?

Hoje Abdel Hakim Belhaj, comandante das forças rebeldes líbias, exige um pedido de desculpas formal dos Estados Unidos e Reino Unido pela sua transferência, em 2004, para a Líbia, onde acabou torturado pelo regime de Muammar Kadhafi. Belhaj diz que naquela altura – onde era apontado como suspeito de terrorismo – foi capturado juntamente com a sua mulher e filhos «numa operação ilegal» em Banguecoque, na qual participara a CIA e o MI6, e enviado para uma prisão de Tripoli.

A BBC cita Belhaj a dizer «Aquilo que me aconteceu e à minha família foi ilegal. E merece um pedido de desculpas. Por tudo o que me aconteceu quando fui capturado e torturado. Por todas estas acções ilegais, a começar pela informação que foi dada às forças de segurança líbias e o interrogatório que me fizeram em Banguecoque». Belhaj negou que a tortura tivesse ocorrido na presença de agentes norte-americanos ou britânicos, mas sublinha que aqueles países tinham noção do perigo que constituía a sua ida para a Líbia.

Este é um caso de um inimigo que hoje virou amigo, e amanhã pode tentar ajustar contas com todos aqueles que o fizeram mal incluindo os seus actuais patrões, EUA e Inglaterra. Mais tarde ou mais cedo, se a cooperação dele com os seus novos patrões não for boa, ele poderá ser perseguido como está a ser Gaddafi.

Este conjunto de factos leva-me a recear a intenção do apoio dos norte americanos, que não chamaria de cooperação porque os TORs da nossa relação não são claros quanto a mim, e não são nenhuma garantia segura para o nosso futuro, como a relação deles com a Líbia.

Apelo ao meu país: é preciso avançar com cautela nas relações deste antigo inimigo nosso, pois enquanto defendíamos o sistema socialista eles navegavam e advogavam o capitalismo e por via disso nos tornamos inimigos. Hoje há petróleo e outros recursos que interessam ao Ocidente no nosso país, e todos deambulam na pérola do Índico e vão conseguindo licenças de exploração e parecemos amigos, amanhã que seremos, se analisarmos a abordagem das relações com a Líbia, arrisco-me a dizer que o nosso país deve ter retaguarda segura e preservar amizades e alianças seguras.

Não acredito que nós poderemos impor ao Ocidente as regras de acesso aos nossos recursos sem entrar em rota de colisão por motivos óbvios. Todo aquele que não for ideal para o ocidente terá pouco tempo de vida como dirigente. Estas guerras e manifestações não tem nada a ver quanto a mim, com democracia, liberdades fundamentais, direitos humanos etc, mas sim com o acesso aos recursos e por via disso o poder. Se é pelos direitos humanos que a NATO intervêm, porque matam inocentes. Bin Laden tinha direito a vida como ser humano mas foi morto, e se fosse cidadão norte americano teria sido motivo de ataque ao agressor; Bin Laden não teve oportunidade para se defender num tribunal, foi executado pelos americanos; um dos filhos de Gaddafi, por sinal um civil, foi morto juntamente com crianças pela mesma NATO que disse que estava na Líbia para garantir que os civis não fossem mortos.

A Somália é um quase estado e a NATO está calada nada faz para repor a tal ordem publica nacional que tanto defende, pois sabem os poderosos que lá não teriam petróleo como podem ter na Líbia. Afinal que direitos e liberdades defendem?

Apelo ao meu país e meus irmão moçambicanos que analisem bem a conjuntura mundial, regressando ao passado para perceber o presente e perspectivar o futuro, pois o ciclo de vida não pode ser analisados única e exclusivamente a partir do presente para o futuro, não podemos ser injustos com os factos e a história. Temos que lembrar que as nossas estratégias foram estrupadas pelos programas internacionais que ao invés de potenciar a produção agrícola nacional preferiram sempre doar a população carenciada o milho amarelo vindo do paraíso norte-americano em detrimento da produção nacional. Porque o PMA por exemplo não ajuda a criar condições para produção de comida e restringe-se a importar a comida que distribui? Porque é que o milho vem de fora alegadamente porque o nosso não tem qualidade? O que já fizeram para que tivesse qualidade? Será que estão interessados que o povo resolva os seus problemas? Ou querem nos afundar neste ciclo de dependência?

Aqueles movimentos que tem apoio destes países como CNT, devem estar cientes de que da mesma forma como foram levados ao poder poderão da mesma forma serem tirados do poder, caso sejam amanha considerados ingratos. Perguntem ao Saddam Hussein, ao Bin Laden ao próprio Gaddafi e outros regimes que serviram o Ocidente e depois foram atirados aos bichos. Vejam os países onde houve intervenção da NATO, tenho certeza que os cidadãos daqueles países preferiam viver com os seu líderes que viver na incerteza de ver o sol do dia seguinte porque uma bala qualquer o pode atingir. No meio disto tudo, nenhum poço é arrebentado, nenhuma refinaria de petróleo é destruída pois são estas as medalhas para o Ocidente enquanto os nossos “revolucionários” se contentam com o poder formal e nada de material.

Os países africanos e os africanos devem ser mais sérios e melhorar a condição de vida, mas estas reformas não podem ter mão do Ocidente, porque este sempre teve interesse claro no nosso continente, recursos. Se querem provar a nossa “amizade” com os americanos por exemplos, experimentem dar uma bofetada a um cidadão daquele país, além de constar de relatórios de direitos humanos como nobres violadores de integridades física podem até parar no campo de reeducação ou concentração de Guantánamo. Só para dar alguns exemplos, em 1840 - Ilhas Fiji - Em Julho marines desembarcaram para punir nativos que atacaram americanos que faziam levantamento topográfico; em 1841 - Kiribati - Ilha McKean (Ilha Drummond/Taputenea) e Ilhas Gilberto (Grupo Kingsmill), Oceano Pacífico, marines desembarcaram para punir nativos pelo assassinato de um marinheiro norte americano.
Sim à revolução mas deve ter TORs claros e se for para satisfazer os nossos anseios pelo poder político e por via deste o económico, poupemos o povo.
PS: quem já esteve, está ou sonha em estar na mesma pose que Gaddafi na foto acima e com esses homens deve começar a pensar no seu futuro.