quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O reinado de tubarões na N4

Numa bela tarde, de um fim de semana, decidi visitar minha amante, a Matola, queria respirar o ar da falta de água e luz em Malhampswene, Mussumbuco, etc. Ví meus irmão com carrinhas de mão, as mamanas com latas, crianças com recipientes do seu tamanho, todos a busca de água, porque lá é mesmo escassa. Senti que não estava na Avenida 4 de Outubro, estava no tapete vermelho. A minha amante, a Matola, tem o privilégio de possuir uma estrada de alta qualidade, com capacidade para pesos acima de cinquenta toneladas de peso bruto, diferentemente das outras tantas vias que o país possui. Também tem o privilégio de possuir uma das melhores básculas do país, na Texlom.

Verifiquei que vezes sem conta, abutres influentes, tem vindo a colocar seus camiões com peso bruto acima do permissível, o que vai desgastando aos poucos tapete vermelho, basta ver o troço entre cruzamento da Moamba e Malhampwene. Os camiões dos tubarões, que na sua maioria transportam areia extraída em Moamba, simulam da Texlom e Boane, através de uma via que passar por trás da Mozal e seguindo seu itinerário obscuro chegam aos locais onde depositam a areia que transportam. Há uma outra via de terra batida que de Malhampswene leva os tubarões à Avenida das Indústrias. Como mostra foto abaixo de um Camião notificado no Km16 usado via alternatica, contornando a báscula de Boane .
Certamente irão perguntar onde estará a polícia. Coitado dos membros da PRM, que vêem-se frustrados quando um telefone da chefia autoriza a soltura dos camionistas infractores, camionistas que passam a frente das básculas mesmo quando os agentes dão sinal para observar as normas. São camiões de gente poderosa, e o Ministro das Obras Públicas, Felício Zacarias, quando visitou a TRAC – Trans African Concession, em 2005 foi informado sobre esta situação, agiu e a ordem foi reposta mas isto só aconteceu até Dezembro do ano passado, de lá para cá, há fogo cruzado entre a TRAC e os camionistas.

A TRAC comprou duas viaturas para os agentes da PRM, faz a devida manutenção, como forma de combater os tubarões disfarçados em camionistas, mas tudo fica frustrado, assim sendo verifica-se a violação de um dos termos de referência no âmbito do contrato de concessão entre o Governo e a TRAC, segundo o qual o governo deve controlar as obras da TRAC. A foto abaixo mostra um agente da Policia de Transito notificando um camionista para a pesagem e este mostrando certa resisentência. Como nota-se não saiu da estrada

Os tubarões não são gentinha como o próprio nome já diz, é gente grande, que usando e abusando das influências que têm, desorganizam o estado Moçambicano, estragam a N4 e tornam mais precárias as estradas de terra batida, estas últimas usadas para fugir das básculas e dos impostos. Ao danificar o tapete vermelho e tantas outras estradas, o camionistas dos tubarões retardam o esforço do governo, resultado do imposto do cidadão comum, ao invés de mais vias de acesso em locais que necessitam, o governo passará os mandatos a fazer manutenção de estradas.

A edilidade da Matola já chamou atenção aos tubarões, mas nada de novo. São estes camiões que tornam precárias as vias que com capacidade para 38 toneladas de peso bruto permissível, suportam pesos três a quatro vezes superiores. Resultado, Matola com vias precárias Matola enquanto os tubarões enchem os bolsos.

Este cenário faz com que a concessionária da via, faça uma gestão de policiamento, como forma de garantir um dos seus maiores interesses, manter a estrada. As multas vão para estado, e este só tem a ganhar. Os tubarões vão se impondo, porque o país é deles.

O nosso governo, devia agora concentrar suas atenções na construção de novas vias aproveitando o facto da TRAC ainda estar a fazer a manutenção da N4, pois quando a N4 passar para o lado de cá, aí sim viverémos a realidade crua e dura.

Cá entre nós, os interesses dos tubarões, em nome de abertura de postos de trabalho e empreendedorismo, vão cavalgando a maioria. A impunidade aliada à negligência, vai denunciando alguns esquemas de troca de favores que infelizmente ainda polulam na terra que nasceu em Bagamoyo, Nachingwea, etc.

Quem era xiconhoca nos tempos lá idos e por mim não vividos? Qual é a sua diferença com os tubarões? Que medidas a tomar? Porque não se toma? Meus amigos, como dizia Maomé, a verdadeira riqueza de um homem é o bem que ele faz neste mundo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Os intelectuis que não masturbam ideias Vs crise de pensamento

Uma vez escrevi um texto, sugeria um streap tease de ideias dos intelectuais, como forma de seduzir os políticos a se despirem alguns políticos da inracionalidade e maquiavelismo; apelava para que alguns intelectuais, saíssem dos sovacos político-partidários e desempenhassem o seu real papel ou que pelo menos, agissem como intelectuais não como cobardes ou máquinas de escrever.

Depois seguiu-se o debate na blogosfera, partilhei ideias com alguns intelectuais, outros simplesmente limitaram-se a atirar pedras pedindo para que eu dissesse nomes dos cobardes que sacrificam a razão em troca de 4X4; outros disseram que era pertinente discutir a questão do intelectual em Moçambique e seu papel e o que está por detrás da sua postura.

Mas que ideias a discutir de individuos que estão corrompidos pelos bens materias? Nãso digo que são casos perdidos, mas minha proposta é que abordemos Moçambique sem medo, pois o que acontece é que alguns intelectuais são caixas de ressonância e consumidores passivos da cobardia. Eis o meu ponto de diálogo.


Algumas correntes me pedem provas sobre a crise de pensamento movida pela falta de masturbação de ideias. Bom, este facto resulta do positivismo, onde o verdadeiro é o tangível e o imaginário é uma falsidade. Mas a questão aqui é que, a abordagem do social, que é composto pelo material e o imaterial, requere uma visão abrangente e polivalente. Alguns intelectuais estão em crise de ideias, isto se avaliaramos o seu desempenho no esboço de pontos de fuga de vários problemas sociais.

A questão não se prende aqui com a defesa de uma premissa afirmativa e universal de que os intelectuais estão nos sovacos, corrompidos e em crise de pensamento, mas sim com a necessidade de reconhecer e discutir o facto de alguns intelectuais não masturbarem ideias, limitando-se apenas em imitar modelos, demostrando uma clara crise de ideias.

Também posso estar em algum sovaco, aliás isso não é mau. É importante que na nossa humilde reflexão entendamos sovaco como uma crença e/ou convicção, o que não é mau, negativo neste cenario é quando alguns ilusteres intelectuais arquitectam ou pelo menos assessoram o desenho e implementação de estratégias de desenvolvimento maquiavélicas e pouco eficientes. É muito bom ter intelectuais e/ou técnicos a trabalharem nos partidos políticos, mas sua tarefa não se deve limitar e aceitar os dógmas, mas sim ajudar a reflectir sobre a sustentabilidade e o impacto desta mais aquela visão na vida da sociedade.

Tomemos o caso do valor dos Chapas, que causou tumultos, se as decisões tivessem sido refinadas pelos intelectuais, com uma capacidade de prever os riscos da medida, não teríamos chegado ao extremo que chegamos. Quando um intelectual abdica sua função técnica e visão crítica, mergulhando cegamente em ideologias partidárias, passa a ser o consumista passivo, entramos numa fase que chamaria de crise da racionalidade.

A minha pergunta é: onde está a sua capacidade crítica e de análise de situações de modo a fazer valer sua opinião no seio dos partidos? Como colocar as ideologias partidárias ao bom serviço das massas? como ser imparcial perante os erros nas ideologias dos partidos, dado que existe espaço de diálogo, onde cada um expressa sua opinião? Portanto arrolo aqui algumas questões que me levam a polémica tese de que ALGUNS INTELECTUAIS ESTÃO NOS SOVACOS DE PARTIDOS POLÍTICOS, e digo mais, isto é ignorância por culpa própria.

É perigoso pedir aos técnicos uma responsabilidade política mas mais perigoso é os técnicos fazerem da técnica homem de campo de ideologias maquiavélicas. A tradição já nos mostrou que estes dois aspectos, técnica e política, não devem ser analisados e vistos separamente dado que, existe aqui uma interdependência entre ambos. O produto político em termos práticos não é observável, dai que sustentando-se na técnica, os movimentos políticos procuram converter ou pelo menos desafiar os seus ideais.

O intelectual pode ser político e vice versa, mas o mal é o exagero das posições e as actuações maquiavélicas, o intelectual não deve ter medo de falar. O intelectual não deve esquecer a sua capacidade crítica e de análise, assim como deve colocá-la em prática, como forma de melhorar a sua imagem e seu papel de político.

Queria convidar os intelectuais, que infelizmente não masturbam ideias e estão em crise de pensamento, para que deixem de viver como sapos, que pensam que o mundo é o poço, estamos mergulhados num periodo com várias mudanças, liberdades, condições e possibilidades, uma época em que uma salada de factos insta a capacidade de contemplação e criatividade.

Os intelectuais em crise de pensamento devem revisitar as lições sobre as incoerências, a falta de lógica , os paradoxos, a intuição, e ter consciência de que os problemas só são insolúveis na superfície. Os partidos politicos, para não serem fustigados pela crise ideológica, devem exigir dos seus assessores, uma análise despida de inracionalidade, incoerência, falta de lógica; Devem dar liberdade de pensar e falar, deixar o intelectual adejar como um pássaro numa eterna masturbação de ideias.

Se é o sucesso que os partidos politicos querem buscar, bem estar social das massas, não é menos verdade que precisam de lanternas intelectuais, dai que os que estão nos sovacos, pagos para pensar pelo país, devem se despir do medo, da crise do pensamento e exibirem suas ideias.

Até sempre JP

Foto: Ouri Pota

Morreu na madrugada de domingo no hospital central de Maputo o músico moçambicano João Paulo, vitima de doença, cuja carreira foi marcada pela interpretação de vários temas e gêneros musicais, com maior destaque para o blues. João Paulo, era detentor de uma incontestável voz de ouro, e durante a década 1960/70 foi vocalista e líder do agrupamento musical “Os Monstros”, que tinha como estilo predilecto a “soul music”.

Nos últimos tempos JP mostrava-se de certo modo desapontado, particularmente pelo desempenho pouco profissional das pessoas que têm como responsabilidade promover o trabalho dos músicos em Moçambique.

Antes de ingressar para o mundo da música, João Paulo passou pelos campos de futebol, tendo jogado na década 60 no então Sporting de Lourenço Marques, o actual Maxaquene, como júnior, porque nessa época era sonho de qualquer jovem tentar chegar aos patamares alcançados por ídolos e figuras incontornáveis do nosso futebol que, aliás, atingiram patamares ao nível mundial ao serviço de Portugal.

Estamos a falar de Eusébio da Silva Ferreira, ao Mário Coluna, Vicente Lucas, Costa Pereira, apenas para citar alguns exemplos. Esteve integrado no mundo da bola até que contraíu uma grave lesão durante um jogo amigável no antigo bairro Indígena (Munhuana), e a sua mãe nunca mais quis que ele voltasse a tocar na bola, pondo fim à uma carreira ainda emergente.

Muitos não conheciam esta faceta da sua vida. Para compensar este desaire, e porque era muito religioso naquela altura, e porque então fazia parte do grupo coral da Missão Suíça, onde descobriu a sua vocação e paixão pela arte de cantar, pela mão do grande músico moçambicano Gabriel Chiau, recebeu as primeiras lições que acabariam por ditar a frequência das suas aparições no mundo da música em Moçambique e além fronteiras.

Trilhou esses caminhos com grandes figuras que hoje são grandes dirigentes políticos, casos dos doutores Eneas Comiche, Joel Libombo, Inácio Magaia, e outros. Uma grande força igualmente de Marracuene, sua terra natal, porque os pais de João Paulo e outros familiares que os rodeavam fervilhavam pela música devido à influência que lhes foi imposta pela Igreja. a esse fervor acabou sendo aliado ao gosto que sempre teve pela leitura e arquitectura, o que lhe conferiu que ao mesmo tempo que tentava seguir com seriedade o percurso da música, com apoio de grupos como o Djambu e João Domingos, acabou fazendo no Instituto Victor Ribeiro o curso de desenho civil, outra sua grande paixão, facto que apenas foi possível graças a apoios multiformes que teve na altura do arquitecto Márcido Guedes, um dos mentores da cidade de Maputo.

Sua paixão pela música começou quando um tio seu lhe ofereceu um disco de Ray Charles e de um músico argelino que dizia numa das canções que África era para os africanos, Europa para os europeus, a América para os americanos e Ásia para os asiáticos. Foi então quando começou a ganhar consciência de quão penosa era a colonização a que estávamos submetidos pelos portugueses.

Nessa altura João Paulo já ouvia falar com alguma insistência de figuras como Patrice Lumumba, Kwame Nkrumah e do grande poeta e dirigente senegalês Leopold Sedar Senghor. Esta foi a razão que o levou muito cedo a adoptar um estilo de música com tendências afro-americanas.

Muita gente acredita que João Paulo começou a cantar nos Monstros. Mas ele teria dito numa entrevista que teve oportunidades que então lhe foram dadas pelo conjunto João Domingos e pela orquestra Djambu, no início da década 60. Eles viam nele alguém que merecia uma oportunidade para se lançar efectivamente na música. Só no início da década 70 é que funda-se os Monstros na companhia do Adolfo viola baixo, com Arlindo Malote na bateria. A música era um hobbie para ele porque trabalhava na construção civil, no Prédio Santos Gil.

Suas aparições em espetáculos marcaram várias noites de Maputo, com destaque para o Café bar Gil Vicente, Shithapenns na Matola, Miau-Miau em Xai-Xai entre outros locais.

Nos últimos tempos João Paulo não escondia seu desapontamento em relação a forma como os músicos estavam a ser tratados tendo chegado a dizer que ele não vivia mas sim sobrevivia. Apelava o governo a ser mais actuante neste âmbito, concebendo que a actividade musical é de um contributo inestimável para o país e para o povo. Que os músicos desempenham igualmente um papel determinante na busca de soluções para a melhoria de vida, mas estes estão pura e simplesmente votados ao abandono.

João Paulo afirmava que as coisas podiam estar muito melhor do que estão hoje, se efectivamente tivéssemos empresários com qualidade, infelizmente não é o que está a acontecer, para a frustração total da classe, daqueles que efectivamente encaram a música com a necessária responsabilidade.

Os restos mortas de João Paulo vão a enterrar quarta-feira, dia 20 do mês em curso no cemitério da Lhanguene antecedido pelo velório na Associação dos músicos moçambicanos.

João Paulo morre aos 59 anos e deixa dois filhos, Ico produtor musical radicado na vizinha África do sul, trabalhou na produção do primeiro disco do rapper moçambicano Simba intitulado Run and Tell Your Mother e Paulo Wilson radicado na Espanha, que tal com o irmão vai fazendo a sua careira musical.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Rescaldo de 5 de Fevereiro: Mentira ou Omissão ?

Dizia Rolão Preto que a verdade, quando impedida de marchar, refugia-se no coração dos homens e vai ganhando em profundidade o que parece perder em superfície... Um dia, essa verdade obscura, sobe das profundidades onde se exilara e surge tão forte claridade, que rasga as trevas do Mundo. Gostaria de compartilhar este pensamento, bem pensado, com os agentes informadores do público do Comando da PRM na província de Maputo.

O que me leva a convidar-lhes a este banquete, cujo prato principal e único é a verdade, é o facto de um agente, formado e informado, ter aparecerido em público, num programa de Rádio, a dizer que os tumultos do dia 5 de Fevereiro, resultaram na detenção de um pouco mais de trinta pessoas, sem falar de viaturas parcial e totalmente destruidas, falou também dos bufos que foram feridos pela fúria popular. Para o espanto, ele mentiu para o povo ao dizer que não houve nenhum ferimento da parte dos populares a nível da província de Maputo, fiquei parvo pois é uma patologia sonharmos enquanto proferimos um discurso público.

Este pronunciamento, do membro da PRM, desprovida de ética social, remeteu-me a um exercício excitado da mente, ou o bufo recebeu instruções para omitir os factos ou então ele mentiu para o povo. A verdade é que houve sim ferimentos na cidade da Matola, dados oficiais indicam que foram dois, nos postos administrativos de Infulene e Machava.

Este cenário é preocupante, quando os agentes forjam inverdades para tapar os olhos do cidadão, isto de nada ajuda na melhoria das relações entre a PRM e a sociedade, aliás temos claros exemplos de que existe aquí uma espécie de guerra entre rato e gato. A sociedade perdeu a credibilidade em relação aos agentes da PRM, e a situação arrefoga-se quando em plena praça pública, os homens que dão o rescaldo do trabalho que os outros membros da PRM fazem, simplesmente omitem ou mentem para o povo que conhece o cenário como a palma da sua própria mão.

Afinal qual é o problema de dizer que houve feridos? Numa manifestação daquelas, oxalá não aconteça mais, é normal que tenha havido ferimentos, o insólito é o que o membro da PRM tentou passar para o público, ele teve uma tentativa frustrata de omicídio à verdade, tentou idealizar uma imagem de sí e procurou espalhar o virus da mentira ou omissão pela maioria.

Temos visto o governo em várias frentes, a desencadear acções de sensibilização do povo, para que não se rebele. Este esforço deve ser compensado pelos agentes do governo em todos sectores, eles devem aprender a dizer a verdade, ela pode doer mas não mata. O povo tem direito de acesso a informação real, pois a má informação, é mais desesperadora que a falta de informação.

Ao dizer que não houve ferimentos, o agente queria nos sugerir que eles são pacifistas implacáveis, não saem por aí a torturar ninguém, o que em algum momento são. O problema aqui não tem nada haver com os métodos de repreensão da PRM, mas com os resultados das manifestações, até porque num dos casos (o de Infulene), o jovem que sofreu ferimentos, não foi tocado pela PRM ele saqueava produtos e na tentativa de se por em fuga feriu-se. É normal que a PRM não tenha tido informação, mas é estranho o facto de cinco dias depois do acontecimento, a policia continuar a falar da inexistência de feridos. Se não soube a Polícia pelo menos, dos dois casos, há que rever os alguns mecanismos de investigação.

É a verdade que vai demostrar ao povo, que as manifestações tem efeitos nefastos e directos na vida dos manifestantes, por isso não se justifica toda tentativa de faltar ou omitir a verdade.

Porque nas montanhas da verdade nunca se faz uma escalada inútil, convido aos bufos para se junatarem a minha equipa de alpinismo, como forma de juntos escalarmos o cume desta montanha, que é a verdade, lá falarémos a mesma linguagem.

Feliz dia dos namorados a todos membros da PRM.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Manifestações de 5 de Fevereiro confirmam a existência de censura nos media moçambicanos

Passo a transcrever na integra o comunicado do MISA e CIP na sequencia da cobertura jornalistica dos tumultos do dia 5 de Fevereito.
As manifestações populares havidas na passada terça-feira, 5 de Fevereiro de 2008, nas cidades de Maputo e Matola, não só trouxeram um pesado fardo para a economia do país como também mostraram quão forte é ainda o controlo governamental sobre os órgãos de comunicação social públicos e privados.A cobertura dos incidentes foi muito condicionada. O MISA-Moçambique e o Centro de Integridade Pública estiveram atentos à forma como os incidentes foram reportados pelos diversos órgãos de comunicação social e, com base em observação directa e recurso a entrevistas com jornalistas e editores, apurámos o seguinte:

• Logo nas primeiras horas da manhã, a STV começou a reportar a revolta popular com directos a partir dos locais em que a violência era mais notória. Por volta das 9.30 horas, este canal trazia algumas incidências, ajudando muitos cidadãos a se precaveram. Mas os directos da STV forambruscamente interrompidos por volta das 10 horas, tendo o canal passado a transmitir uma telenovela;

• No canal público, a TVM, ao longo da manhã, as revoltas não foram notícia. Ao invés de informar sobre os acontecimentos, a TVM transmitia reportagens sobre o CAN (Taça das Nações Africanas em futebol);

• No seu Jornal da Tarde dessa terça-feira, a TVM não dedicou um minuto sequer às manifestações, que haviam iniciado cedo pela manhã, embora alguns repórteres daquela estação pública se tivessem feito à rua com o propósito de documentarem o que estava a acontecer;

• À noite, no Telejornal, quando os telespectadores esperavam que o canal público trouxesse um retrato detalhado dos acontecimentos, a TVM abordou o assunto de uma forma marginal, negligenciando o facto de que, no domínio da informação, aquele era um assunto de inquestionável destaque;• Segundo apurámos, um veterano jornalista da TVM hoje fora da Chefia da Redacção terá recebido “ordens superiores” para vigiar “conteúdos noticiosos subversivos”;• Na Rádio Moçambique (RM), repórteres que se encontravam em vários pontos das cidades de Maputo e Matola foram obrigados, na tarde daquela terça-feira, a interromper as reportagens em directo que vinham fazendo desde as primeiras horas e instruídos a recolherem à Redacção, supostamente como forma de se evitar um alegado “efeito dominó” dos acontecimentos;

• No decurso do Jornal da Manhã de terça-feira, o jornalista Emílio Manhique anunciou que, no seu talk show denominado “Café da Manhã” do dia seguinte, quarta-feira, teria como convidado o sociólogo Carlos Serra, para fazer comentários sobre as manifestações populares. Mas, ao princípio da tarde do mesmo dia, Serra recebeu uma chamada da RM, através da qual foi informado que o o convite tinha sido cancelado “por ordens superiores”. Na quarta, no lugar de o Café da Manhã debater os incidentes do dia anterior, o tema de destaque foi o HIV/Sida. Isto levou a que muitos ouvintes da RM telefonassem para a estação manifestando-se decepcionados com rádio pública, dado que o assunto do momento eram as manifestações;
• O Jornal Notícias, que tem como um dos accionistas principais o Banco de Moçambique, também não escapou a este esforçou de omitir as evidência. Logo que se aperceberam da revolta, os executivos editoriais do jornal destacaram várias equipas de reportagem para a rua, mas as peças produzidas foram editadas numa perspectiva de escamotear a realidade. No dia seguinte, o jornal apresentava textos onde se destacavam frases do tipo “…quando populares e oportunistas se manifestaram de forma violenta, a pretexto de protestarem contra a subida das tarifas dos semi-colectivos…”, e “…entre pequenos exércitos de desempregados e gente de conduta duvidosa…”, etc., etc.
Estes e outros factos mostram que a cobertura noticiosa de acontecimentos sensíveis continua a ser alvo de controlo governamental, privando a opinião pública de ter acesso a informação. No caso vertente, a informação sobre o que estava a acontecer em vários pontos do Grande Maputo era vital para que os cidadãos desprevenidos tomassem conhecimento dos lugares onde a revolta era mais violenta, evitando assim se exporem a riscos. Por outro lado, muitos populares prestaram declarações a jornalistas, mas elas não foram transmitidas, vendo assim a sua liberdade de se expressarem mutilada.

Estas marcas de censura são perniciosas para a sociedade moçambicana. No caso da TVM, a mão do Governo no controlo editorial mostra que a noção de serviço público com que a estação opera não significa colocá-la ao serviço do povo (e dos contribuintes) , informando com isenção e rigor.
Estes condicionalismos a que o trabalho dos jornalistas está sujeito traduz-se numa clara violação à Constituição da República de Moçambique (CRM), nomeadamente no seu artigo 48º, que versa sobre Liberdades de Expressão e Informação, e à Lei de Imprensa (Lei 18/91 de 10 de Agosto). A Constituição é clara quando refere que “todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação” e que “o exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente a faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à informação, não podem ser limitados por censura”.

O relato dos actos da revolta da passada terça-feira era do interesse público, pois a mesma afectou negativamente vários sectores da sociedade moçambicana, tanto mais que na mesma ocasião que a revolta percorria as ruas do Grande Maputo, a comunicação por telemóvel tornou-se, estranhamente, difícil ou mesmo impossível.

A forma como alguns órgãos de comunicação social se portaram, omitindo uma revolta evidente ou escamoteando a sua dimensão e as suas causas, sugere um cada vez maior controlo governamental sobre o sector. Esta governamentalização actua no sentido contrário ao plasmado na Constituição da República e na Lei de Imprensa, nomeadamente porque coarcta o acesso à informação. Avaliações recentes, como o espelha o Relatório de 2006 do MISA-Moçambique sobre Liberdade de Imprensa publicado no ano passado, mostram um crescente aumento da vigia das autoridades do Estado sobre os media, destacando-se a censura, o que em estado a deteriorar o ambiente de trabalho dos jornalistas.O MISA-Moçambique e o CIP apelam a quem de direito para que se não intrometa no trabalho dos jornalistas e dos seus órgãos de comunicação social, por tal se traduzir em violação crassa à CRM e à Lei de Imprensa.

Maputo, 10 de Fevereiro de 2008
MISA-Moçambique e CIP

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Carta ao Presidente da Republica


Depois dos tumultos e de menores terem medido forças com Estado Moçambicano, na sequência da subida do preço do Chapa, Carlos Serra escreve uma Carta ao Guebuza.


Depois de ter prometido aqui , Dr. Carlos Serra deixou aqui a carta que segue abaixo, dirigida ao presidente da república. Lembre-se aqui uma outra carta escrita pelo jovem deputado da AR Manuel Araújo, também dirigida ao PR e todas a propósito da "Super Terça Feira". Desfrutem

Senhor Presidente
O ano passado, quando das explosões do paiol de Malhazine, escrevi- lhe a minha terceira carta . Agora, após o sismo social na periferia de Maputo, cá estou de novo a escrever-lhe uma carta, esta é sétima desde 30 de Janeiro de 2007 .

Presidente: a gente humilde desapertou os cordões à bolsa para poder ter festas melhoradas no fim de 2007, como sempre, afinal, faz todos os anos. Entrou em Janeiro com a expectativa de um ano melhor, como em todos os Janeiros entra, mas com a bolsa minguada e a fazer contas para, entre outras coisas, como também sempre acontece, tratar da inscrição dos filhos nas escolas, da compra de livros e de outro material escolar, de fardas, etc

E foi quando fazia essa e tantas outras contas do orçamento familiar, que lhe caiu em cima, a 5 deste mês, a notícia do aumento dos preços do pão e dos chapas. Tudo muito rapidamente, Presidente, com a eficácia inexorável de um sismo tecnocrático. E, depois, a gente humilde revoltou-se, deu origem ao sismo social de continuidade, a gente humilde que passa dificuldades de sobrevivência diárias, muita da qual não tem 13.º mês, a gente humilde que nada sabe dos preços do trigo e do combustível no mercado internacional, que apenas sabe que a sua vida tem sempre um ponto de interrogação diário. Enquanto isso, andou e anda outra gente, Presidente, dizendo que o nosso povo é pacífico, que em si nada teria feito perante o sismo tarifário e a frieza burocrática do governo se não fosse a mão perversa de uma agenda externa, de uma agenda má. Por outras palavras, gente que passa ao povo um atestado de vegetal, resignado e comestível.

Ora, Presidente, foram homens, mulheres e crianças quem se revoltou, no sismo social sobrevindo estavam lá elas, as mulheres, aquelas que gerem lares e orçamentos e pontes sociais; as crianças e os adolescentes, aqueles que andam nas escolas, no comércio informal ou que, no caso dos mais velhos, estão desempregados. Chamar-lhes arruaceiros, marginais, é criminoso.

O ano passado, o Presidente assumiu que a culpa foi "nossa" a propósito das explosões de Malhazine. Mas este ano nenhuma culpa foi assumida por quem quer que seja do seu executivo.

Andaram ministros multiplicando-se pelos órgãos de comunicação em sábias dissertações sobre os preços internacionais. Mas não vimos ministros a fazer o que Samora Machel dizia em 1974 que deviam fazer: estar em permanência com o povo, ouvi-lo, dialogar com ele, deixar o conforto dos gabinetes.

E, Presidente, no dia 7, em medida apressada, tardia e demagógica, os TPM, empresa pública, puseram na rua os seus autocarros de luxo para tentar minorar a revolta, numa situação em que, em termos de transportes, tudo foi entregue ao processo negocial com os chapistas. Autocarros que, como o Presidente sabe, não foram comprados para servir o povo.

Presidente: há coisas que não podem ser privadas, coisas que um Estado deve assumir imperativamente. Pão e transportes condignos a preços subsidiados são duas dessas coisas. Dir-me-á que isso é quimérico, que o mercado não permite isso. Seja. Mas deixe-me ao menos ser isso, quimérico.

Demitir-se o Estado do seu papel de Estado social é demitir-se do Povo, é abandoná-lo. Abandoná-lo, é deixá-lo refém de discursos tecnocráticos, de caminhos estatísticos, é caminhar para a perda de legitimidade

Acusamos o rio de violência, Presidente, mas esquecemo-nos muitas vezes das margens que o comprimem; acusamos o povo de ser tumultuoso e esquecemo-nos de nos perguntar se não somos nós os tumultuadores.

O povo de Maputo guarda ainda a memória dorida das explosões de Malhazine e guardará agora a memória da revolta de 5 de Fevereiro. De alguma forma criou-se - permita-me a expressão - uma zona sismológica social permanente. E essa zona não poderá, agora, ser esquecida nem molestada. Tanto mais que Maputo é bem mais do que o Sul de Moçambique: estando aqui gente de todo o país, a cidade é uma espécie de concentrado nacional

Perdoe-me tê-lo incomodado uma vez mais

Respeitosos cumprimentos

Carlos Serra









AOS MANOS E MANAS por Edson da Luz(Azagaia)


Eis aqui uma intervencao social digna de realce


Quando a comunicação social anunciou o recorde do preço do barril de petróleo, já se adivinhava uma nova subida do preço do combustível no nosso país o que causaria um agravamento de preços de produtos básicos. A seguir a comunicação social veio e confirmou os receios de todos nós, o combustível ia subir, o pão ia subir, e pior que tudo isso... o chapa ia igualmente subir, ora... ninguém estava a espera desta, talvez porque fosse inconsebível para um moçambicano que ganha o que ganha pensar sequer na hipótese do chapa subir. Bem..., o chapa ia subir mas discutia-se ainda para quanto ( o governo e os transportadores), as propostas eram tão absurdas que ou preucupavam-nos muito ou faziam-nos rir, veja-se esta: de 5Mt à 7.5Mt para14.5Mt à 19Mt se não estou em erro, uma subida na ordem de mais de 100%... he he he.. eramos nós a rirmo-nos da vida ou a vida a rir-se de nós.
Depois do tal braço de ferro entre os chapeiros e o governo, chegou-se a marca de 7.5Mt à 10Mt ( bem, há quem diga que aquelas propostas absurdas eram só para o governo se fazer passar por heroi baixando tudo aquilo...bocas!). Estavamos nas vésparas do fim de semana longo do Dia dos Heróis, e devido a tranquilidade que se vivia(embora alguns depoimentos que passavam na TV indicarem um desespero do povo) pensava-se: ou as pessoas conformaram-se, ou estão tão desnorteadas que nem sabem que fazer.
Na segunda-feira dia 4, circulavam algumas sms sobre uma possível greve no dia seguinte, dia em que entrava em vigor a nova tarifa, mas...duvido que se tenha levado à sério dada a passividade que nos é característica. Terça-feira dia 5, pela manhã, estava eu fora de casa a fazer os meus exercícios matinais quando começei a ouvir rumores duma greve que estava a acontecer na periferia... será?...recebia varias sms que reportavam o mesmo, e só quando o meu companheiro Keleza ligou-me a dizer que estava a presenciar a confusão, é que eu me dei conta da seriedade do assunto. Diziam que estava a ser transmitido em directo pela TV, nem mais...corri de imediato para casa e pelo caminho (na zona da baixa) notei um certo alvoroço nas ruas e...sim senhora! Estava a acontecer mesmo, o povo se rebelava contra a nova tarifa, aquilo foi o que se viu, nenhum chapa estava autorizado a circular e eu mesmo presenciei um deles a ser apedrejado pelo povo. Coisa igual há muito que não se via, lembro-me de algo pior no ano de 1992 se não me falha a memória e pelo mesmo motivo, o povo literalmente destruiu a cidade.
O povo queria destruir tudo que fosse sinónimo de riqueza e bem estar, carros, lojas, bancos, e não escaparam as bombas de gasolina e padarias. Grande cagaço...o pessoal da classe média e alta nem punha o nariz fora de casa, o povão estava dicidido. O governo reagiu de forma cobarde, mandou os seus cães de guarda, a nossa famosa policia que foi lá e fez o que melhor sabe fazer, vilolentou o povo, tiros para o ar com balas de borracha para disperçar o povo rebelde...tiros para o ar? Balas de borracha só? Bem, o que se sabe é que houve vitimas mortais desses tiros, quem paga? Isso é outra história. E por aí à fora...não quero aqui fazer um rescaldo, era só para lembrar.
Agora, o que me fez escrever este texto é facto de eu ter feito uma música sobre estes acontecimentos e a coragem heróica do povo. Povo...afinal quem é o povo? Sabe... eu que julgava saber muito bem a resposta para esta pergunta, confesso que na terça-feira fiquei em dúvida, isto porquê...ora vejamos: ouvi muita gente conhecida a dizer que o povo está fazer greve mas com uma expressão de claro distanciamento, curiosamenete esse discurso vinha de pessoas da classe média e alta que provavelmente não se encomodavam assim tanto com a subida dos chapas...perdoem-me se me engano. Eu penso que se dependesse da classe média não haveria greve nenhuma, reclamariamos sim nos corredores do serviço, nos murros dos prédios, na segurança dos nossos lares mas não passaria disso. E foi enjoado com essa apatia que liguei para o Keleza e disse-lhe claramente que nós tinhamos que nos manifestar, mostrar a nossa posição, afinal de contas somos povo não somos?! Para a minha felicidade e conforto ele concordou imediatamente, nós como artistas também somos povo e temos que mostrar a nossa posição perante este problema que também é nosso, estavamos no momento cheios de emoção mas vazios de estratégias, mas iamos pensar...surgiu à tardinha a ideia de convocarmos outros artistas e nos dirigirmos a imprensa, aproveitariamos a conferência de imprensa que seria dada pelo governo naquela tarde, mas depois achamos melhor esperar pelo pronunciamento do governo para reagirmos, o Joe votou para esta posição e ficamos à espera, mas nunca mais se ouvia algo da comunicação social, o que só veio a acontecer à noite na hora do telejornal.Durante a manhã e a tarde eu recebia varias mensagens de pessoas a pedirem-me para escrever uma música sobre a greve, ligaram-me outras a dizerem que eu já devia ter preparado uma bomba para a ocasião, mas eu à principio não queria ser o ladrão feito pela ocasião e quase que nem considerei essa hipótese, pensava para mim que seria demasiado óbvio, inclusive o meu companheiro Izlo fez o mesmo comentário, que o tema cansaria as pessoas...política e mais política. Estava convencido de que não ia escrever nada sobre o assunto até que vendo o tempo passar e confrontado com a triste realidade de ninguém para além do povo da periferia se “pronunciar” sobre o assunto, decidi começar a rabiscar qualquer coisa só para libertar o desejo de me manifestar. Não estava certo se gravava aquilo...estava puro, vinha do fundo meu coração mas...receava ser demasiado óbvio e previsível...QUE SE LIXE A PREVISIBILIDAE!!!!!!! Eu é que não vou ficar alheio a isto, pensem o que quiserem pensar, chamem-me os nomes que me chamar, oportunista, comercial, o rapaz dos desabafos ou sei lá o quê! Mas antes de me apelidarem, perguntem-se onde voçês estavam, o que estiveram voçês a fazer quando o povo da periferia estava a manifestar-se. A greve resultou, mas não resultou apenas para os que arriscaram as suas vidas nas ruas, resultou também para ti que estavas a curtir o fim de semana que se prolongou, tu que estavas a fazer piadas sobre os que se entregavam de corpo e alma à luta, tu também vais pagar 5Mt e 7.5Mt no chapa e não 7.5Mt e 10Mts, e de certeza vais poupar um pouco mais e vais respirar de alívio. As várias associações da sociedade civil não mostraram a sua posição, os músicos, os escritores, e todos que seriam afectados directa ou indirectamente pela subida dos chapas. Detestei essa falta de organização nossa, esse distanciamento, podiamos ter feito mais, podiamos ao menos ter sido mais solidários e mostrado a nossa união. Eu fiz humildemente esta música para mostrar a minha solidariedade, podia ter feito mais reconheço, mas cada um na sua frente. Eu uso a música para lutar e tu??
“Povo no poder” é uma música de celebração do poder do povo, júbilo e glória, quero dedicá-la em especial aos que perderam a vida nesta greve vítimas da nossa polícia, esses para mim são verdadeiros heróis, dignos de repousarem na cripta dos nossos corações, com a chama sempre acesa. POVO NO PODER!!!!...”.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Directo ao assunto

Uma viajem pelo mundo das ideias, muitas das vezes prega-nos algumas partidas. Digo isto porque não poucas vezes, entramos em atritos de ideias e convicções. A história manda dizer que, quando um maluco te ataca melhor é esquivar para não ser confundido.

O que acontece como diz meu amigo Gune, é que os maus zangam quando os bons mostram que é possivel fazer diferente do que chamam 'sistema' só para acomodar suas limitações e sovaquismos. Bem dito.

Cada um de nós assume sua posição conforme lhe convém na sociedade, mas não pode cavalgar as normas sob o risco de ser sensurado. A maneira de abordar e interpretar o social é subjectiva, o que os homens devem fazer é serem humildes, para nunca avançarem em posições de superioridade, pois quando se chega a este extremo, estamos diante de uma patologia.

Junto ao meu cantinho de masturbação intelectual alguns gemidos interrogatórios para todos que por aqui atravessarem.


1 - O que vem sendo debatido sobre a intelectualidade e os intelectuais em Moçambique ?

2 - O que é ser intelectual? E em Moçambique?

3 - Quais os critérios que definem a intelectualidade?

4 - Que tipo de intelectuais temos em Moçambique? Que papel desempenham?

5 - O que guia a actividade do intelectual moçambicano?

6 - Qual é em Moçambique a relação entre os intelectuais e os Partidos?

7 - Que contribuição os intelectuais têm dado ao país?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Prossegue o debate

Quis a vida e o destino, que eu conhecesse dois intelectuais, preocupados em discutir ideias, nomeadamente Júlio Mutisse e Gonçalves Matsinhe. Este encontro, tem vindo a alimentar muita discussão neste meu canto de masturbação intelectual. Alguns já sabem qual é a génese. Se não sabem é o texto onde lanço uma tese uma tese segundo a qual, alguns intelectuais estão em sovacos políticos partidários. O curiosos é que na sua mais respeitada intelectualidade e capacidade de análise, Gonçalves Matsinhe afirma que: Infelizmente Lázaro Bamo, ainda não o vi discutir ideias. Se estiver errado me diga que ideia discutiu aqui?

Se me deu a honra de desprender seu tempo para ler o meu pobre texto, O streep Tease das Ideias e o Papel dos Intelectuais, certamente viu que procuro fundamentar a minha posição, digo claramente onde estão alguns dos nossos intelectuais e a fazer o quê. Não me limito a dizer aspectos negativos, mas a falar de aspectos também dignos de respeito e realce.

É triste ver nossos companheiros com afirmações pobres como: Eis nos aqui de novo. Depois de classificar alguns intelectuais de emocionados, invejosos e mal educados, agora acrescenta que eles são materialmente corrompidos... esta formula continua problemática para mim. Não conheço pessoalmente muitos dos meus interlocutores (incluindo o próprio Bamo) para chegar a tais conclusões... como sugere Mutisse, numa clara tentativa de me dizer que tenho que conhecer as pessoas para chegar a estas conclusões. Jurista de carreira, certamente já interpretou muitos teóricos, conhece-os? Certamente já emitiu juízos a partir do comportamento dos indivíduos. Conhece-os?

Temos mesmo que terminar na unanimidade de que a corrupção é a causa de todos os males? Não, se está lembrado não coloquei no meu texto apenas a corrupção e no fim vem etc.

Matsinhe, pergunta: Onde estava o Lázaro Bamo quando certos blogistas por questionarem civilizadamente as ideias do professor Carlos Serra em relação a diversos assuntos foram apelidados de Mandarins ou guardiões do templo? O que disse o Lázaro Bamo perante o insulto da Sara no Blog do Professor Serra no comentário ao post que deu neste debate? Onde estava o Lázaro Bamo nos insultos ao Patrício Langa no seu blog? Vem aqui hoje dar nos lições de moral sobre ATAQUES?

Não vim com lições pese embora minha formação académica me leve para a docência, apenas dei nome ao acto.

Talvez lhe esteja a ser difícil sair de algum sovaco para comentar como um bom (acho que pode ser) e independente intelectual esta ideia da necessidade de uma esfera pública comprometida com o debate leal dos assuntos que nos atormentam.

O mau não é estar no sovaco, o problema é que alguns estão em sovacos, cuja finalidade é usar e abusar os outros. Praticar injustiça, corromper, e tornar os méritos em deméritos, esse sim é um sovaco que não aconselho aos intelectuais que prezem como tais.

Um comentário digno de realce expresso por Matsinhe encontra na passagem onde escreve...Ser fiel a uma ideologia não escamotear os feitos negativos do expoente máximo dessa ideologia elevando os feitos negativos de quem defende a ideologia contrária ou teoricamente contrária. É ter capacidade de ver até que ponto, verdadeiramente, essas ideologias são contrárias e poder criticá-las nos seus méritos e deméritos. Este é na minha óptica, o dever de um intelectual mergulhado nos sovacos de qualquer que seja a natureza.

Phambeni

Cobardia de alguns intelectuais em debate na blogosfera

Queria trazer aqui meu comentário sobre o debate que se seguiu à publicação de um texto, aqui no meu canto de masturbação intelectual, com o titulo: O streep tease das ideias e o papel dos intelectuais. O texto foi bastante comentado e teve destaque no blog do professor Carlos Serra.

Caro Mutisse escreve em jeito de comentário que: Mais do que chamar nomes a todos esses, porque não discutir as suas ideias? Pô-las em causa nas suas fraquezas etc.?

Caro Mutisse, as convicções são prisões, dai que respeito sua opinião mas que ideias a discutir de indivíduos que estão corrompidos pelos bens materiais? Aliás eles são caixas de ressonância e consumidores passivos da cobardia, eis o meu ponto de diálogo.

Enuncia alguns problemas na sua missiva mas não os discute. Enuncia alguns problemas na sua missiva mas não os discute. Que elites lhe deixam triste por deixarem "a maioria comer lodo no lugar de pão"? Fala de académicos, políticos, intelectuais, governantes...? Se considerarmos que o Lázaro tem (suponho) formação (e informação) superior, estando num país com índices de analfabetismo assustadores, então faz parte de uma elite e, tomando a sua máxima, tem também a obrigação de "fazer muito mais, levando luz para o túnel onde habita a esperança da maioria". O que tem feito?

Os axiomas são indiscutíveis, caro Mutisse, que o povo come lodo no lugar de pão é evidente, e as causas meu caro são as que nós todos conhecemos: corrupção; falta de responsabilidade e respeito e consideração para com o próximo, etc.

O que tenho feito? Eis a pergunta do ilustre Mutisse. Convido a partilhar meus textos no jornal Zambeze; no meu sitio de masturbação intelectual; a ouvir o programa Matolinhas na Rádio Cidade 97.90 FM sábado sim sábado sim das 7horas as 10 da manhã. As reportagens em directo, todas manhãs no mesmo canal.

Caro Matsinhe, adorei a sua apaixonante visão e passo a citar: Há alguma forma de comprovar isso do que saber do ilustre Bamo que há intelectuais emocionados, invejosos e mal-educados patrioticamente? Já sabíamos que na óptica do Bamo alguns estão no sovaco de partidos políticos, apesar de não sabermos como é que ele chegou a tal respeitável opinião.

Pede-me provas? Isso é resultado do positivismo, onde o verdadeiro é o tangível e o imaginário é uma falsidade. Não lhe darei provas da minha posição pois ela é resultado de várias premissas lógicas que untam o nosso dia a dia.

Queria sugerir que me dissesse o caminho para chegar as suas conclusões sobre factos sociais, quem sabe poderá me ajudar a ter mecanismos matsinhanamente válidos, para credibilidade dos meus comentários.

Escreve ainda que: Longe de nos pormos em bicos dos pés como os puritanos, e nos colocarmos numa trincheira virtual de onde lançamos farpas para um inimigo não devidamente identificado, devíamos prestar um serviço público à nação usando o nosso tempo para clarificar a sociedade sobre os fenómenos penosos que estão a acontecer.

Caro Matsinhe, não tenho inimigos, e não discuto ideias nessa perspectiva, como forma de evitar ataque pessoal, que é um argumento falacioso. Queria que eu falasse de nomes? Se sim estamos em caminhos antagónicos.

Para além da sovaqueira da "vitimização" referida pelo Mutisse o Bamo tem que sair daquela da SOBERBA, PRESUNÇÃO e afins que o fazem pensar e ver a inveja, emoção e má educação dos outros para passar a discutir os méritos ou deméritos das opiniões desses.

Vejo claramente com este comentário, que estou diante de um intelectual ego centrista, vítima da bonança e como tal e filiando-se a visão mutissiana, faz um ataque pessoal ao Bamo, homem do povo, vitima que se assume como tal. Matsinhe e Mutisse não fazem critica, atacam suas vítimas como verdadeiros espartanos a busca de novas terras.

Nelson da Beira, escreveu que.. Minha revolta à esse intelectualismo se agiganta quando se vai ao cúmulo de usar dos seus saberes para "apedrejar" os que se lhes opõe... De certeza os mutissianos e matsinhianos irão te pedir provas disso meu amigo. Atenção.

Mesma chamada de atenção vai para Elísio Macamo, que em jeito de comentário sobre o assunto escreveu que …a necessidade de continuar a debater a questão revela, para mim, algo muito mais importante do que a forma como cada um de nós apresenta os seus argumentos.

Através do Nelson chegou-me o comentário do Micas, ele pergunta me, que poderão fazer mais os Serras, os Nelson e por ai adiante, que não o façam já?

Em jeito de resposta escrevi: Micas os Nelson, Serra tem muito a fazer, assim como Bamo e Micas. Denunciar e criticar, mostrar que há quem está de olho nas irregularidades, como forma de mitigar a falta de responsabilidade do estado em que estamos mergulhados.

Micas, enquanto alguns intelectuais continuarem a acobertar o político, viverémos no estado natural de Thomas Hobbes. O intelectual deve educar o político, como forma de criar um estado menos tempestuoso.

Phambeni

Vejam também: http://meumundonelsonleve.blogspot.com/ ou www.ideiassubsversivas.blogspot.com

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Missiva ao Júlio Mutisse

Faço esta pequena exposição para dizer que apreciei a abertura do debate através do seu mundo de ideias subversisvas. Mas estou triste com alguns dos nossos intelectuais, que deixam a emoção sobrepor-se à razão. Estou decepcionado com intelectuais invejosos, que passam a vida a desvalorizar o trabalho e fama dos outros no campo das ciências. No processo histórico, todos somos protagonistas mas alguns è que se tornam mártires e os cobardes são publicamente e moralmente linchados.

Caro Mutisse, acho que a ciência mas do que holofote devia ensinar o homem a controlar o sentimento por meio do pensamento e não o contrário, pois a assim sendo estarémos condenados à desgraça.

Eu estou triste com as elites, que deixam a maioria comer lodo no lugar de pão, não estou frustrado mas acho que, Mutisse, Lázaro, Nelson, Serra, GM, etc podem fazer muito mais, levando luz para o túnel onde habita a esperança da maioria.

Hoje a maioria está em crise, subiu preço de chapa, e as elites escoltadas vão passeando sua classe as custas dos que pagam impostos e não tem regalias; aqueles que vivem acima de 100 USD quando em Golhoza (nome de um bairro na Matola), há quem vive a baixo de 1 USD.

Acordei hoje 5 de fevereiro de 2008 com receios de despertar em Nairob ou Darfur, e para minha infelecidade acordei em Bagdad e Cabul. Acordei triste porque lá no Singhatela (nome de um bairro na Matola), meus consaguêneos passarão a viver de batata doce que jà não cresce na machamba de vovó Gelina, lá para as bandas de Dona Alice, mas como diz um provérbio chinês, jamais desesperes, mesmo perante as mais sombrias aflições de sua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda, continuo a acreditar na utopia..

Caro Mutisse leve minha carta para si e para os seus, para intelectuais que a pêrola do índico não conseguiu educar como patriotas, capazes de defender interesses comuns de uma nação que já existe, esquecem que Só conseguirá compreender o que é uma propriedade quem lhe tiver sacrificado uma parte de si próprio, quem tiver lutado para a salvar e sofrido para lhe dar beleza como dizia Saint-Exupéry.

Meu caro saiam eles dos sovacos de egoísmo, e venham mergulhar na catinga deste lado de cá onde me encontro com a maioria, que não tem sabão para lavar a boca.